GATOS, CÃES E RÓTULOS
Sai agora mais um livro sobre gatos e os seus donos. Em resumo, faz-se a apologia que por detrás de cada grande escritor... está sempre um gato. Isso diverte-me. Mas também lá poderíamos meter um cão, que iria dar ao mesmo. Existem montes de pessoas que querem por força saber se somos "dog lovers" ou "cat lovers". Aparentemente isto iria caracterizar por via indirecta a nossa visão do mundo. Parece-me a coisa um cadinho limitada, embora se possa equacionar o problema. O Steinbeck fez "Viagens com Charley", calculo que deva ser por isso que era um aventureiro, um homem de acção e por aí fora. Já o povo dos gatos é dado por mais astuto, menos leal e sobretudo, menos previsível. O mito das bruxas e dos seus diabólicos assistentes felinos é um reflexo dessa ideia.
Desde miúdo que tive animais por perto. Cães, alguns apanhados na estrada com pernas partidas e vestidos de carraças, outros grandes e de olhos mansos, muitos rafeiros de paciência curta e dente afiado para os estranhos. Mas também tive gatos. Cinzentos, listrados, brancos... Destes últimos adorava a agilidade e a forma como escolhiam o momento de demonstrar o seu afecto. A independência de roçar por nós e, imediatamente a seguir, saltar para o telhado e ir à sua vida. Muitos voltavam.
Nos cães amava o contrário: a forma como poderiam passar horas com o focinho deitado sobre as nossas pernas, em outra preocupação que não fosse fazer parte da nossa matilha.
Frequentemente dou por mim desencaixado dos rótulos. Não caibo nas listas em que a maioria gosta de pregar as pessoas com alfinetes; no local seguro em que se sabe o que se espera. E nem por isso me dou por menos leal; gosto é de saber que me pertenço.
Deve-me ter ficado esta mania do tempo em que me sentava à sombra de um limoeiro, um cão castanho aos pés, um gato no colo e um livro na mão...
Sem comentários:
Enviar um comentário